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O céu estava negro e nenhuma nuvem podia ser vista, a terra estava coberta por uma grossa camada de uma pálida neve. Nenhum barulho ecoava no ar, o silêncio predominava.

Uma grande criatura fazia profundas pegadas no gelo que parecia mais frio aquele ano. Sua respiração era forte, mas ao mesmo tempo cansada, como se o peso do mundo estivesse em suas escamosas costas. Suas longas asas vermelhas estavam abertas, em sinal de alerta. Os olhos de réptil demonstravam um sofrimento tão profundo que qualquer um que os olhasse por muito tempo, poderia sentir a dor também.

A caminhada era lenta, já não havia pressa. Havia perdido tudo… Uma raça inteira havia sumido, desaparecido em um bater rápido de asas. Como podiam ter feito aquilo? Os humanos foram responsáveis por aquela extinção.

O vivido e cansado dragão chegou na caverna onde estava se abrigando, no topo de uma gelada colina. Havia um tempo em que sua espécie dominava os céus e a harmonia estava sempre presente. Sua sabedoria era grande conselheira de grandes reinos. Mas essa parte da história se tornara pó, que voou com a brisa leve da manhã. Agora teria que viver escondido, caso quisesse sobreviver.

Como suas costas e seu corpo muito calejado de batalhas travadas doíam, deitou-se nas profundezas de seu lugar de descanso. Caiu em um sono profundo onde a glória dos velhos tempos imperava, podia estender suas asas e voar pela imensidão.

Acordou assustado quando ouviu passos entrando na caverna, só podiam ser caçadores. Eles carregaram tochas e espadas tão afiadas que cortariam até um fio de cabelo. Posicionou-se rapidamente em posição de ataque e rugiu ferozmente para tentar afugentá-los, mas isso não os amedrontou.

Um por um começaram a atacar, eram tantos que nem conseguiu contar. O dragão cuspiu fogo ao seu redor, aquelas armaduras eram tão fortes que só ficaram um pouco chamuscadas. Conseguiu jogar uns três para trás com sua cauda, mas isso não era o suficiente. Ele recuou, tentando encontrar alguma saída. Não poderia acabar tudo ali, uma tradição, uma espécie tão harmoniosa. Os caçadores iam se aproximando lentamente quando uma última esperança surgiu: uma maga de cabelos ruivos presos num rabo de cavalo gracioso. Ao perceberem a presença dela, partiram para o ataque, enquanto o dragão tentava se desvincilhar de alguns que o haviam encurralado. Queria ajudá-la.

Porém, ela não parecia precisar de ajuda pois golpeava seus inimigos fortemente com o cajado que tinha um rubi na ponta e usava a magia ao mesmo tempo que desviava dos ataques. Seu vestido de cetim azul comprido e seus movimentos eram tão leves que pareciam uma dança muito bem coreografada e ensaiada por um bom tempo.

Em pouco tempo, a dama conseguiu nocautear todos os inimigos e andou em direção da criatura mística. Sem medo algum, tocou suas belas asas com suas delicadas e finas mãos. Fechou os olhos e uma ventania percorreu o local, esvoaçando seu cabelo por toda a parte. Bateu seu cajado com força no chão de pedra e uma luz forte saiu do rubi e iluminou toda a caverna.

Em um piscar de olhos, o corpo do dragão começou a brilhar intensamente. A mulher afastou-se um pouco, enquanto sorria. As patas deram lugar a pés, as asas se transformaram em mãos e os olhos de réptil ficaram azuis. Um traje de príncipe foi desenhado em seu corpo e quase não acreditou quando olhou seu reflexo em uma poça provinda de uma estalaquitite.

A maga continuou sorrindo meigamente e o abraçou. Sempre o havia amado, desde o dia em que ele havia salvo sua vida de homens que a queriam fazer mal. Tempo em que era só uma aprendiz de magia e entrou em uma grande confusão. Ainda se lembrava de quando ele apareceu e o sentimento que ficou quando foi embora voando.

– Agora você está livre… – o olhou – Pode viver entre os humanos em paz.

Havia se lembrado dela e um sentimento muito forte passou em seu coração. Beijou-lhe os lábios vermelhos.

E foi assim que a sabedoria e a compaixão passaram a fazer parte das virtudes humanas. Os dragões se extinguiram, mas seu legado ficou para sempre marcado em todas as culturas do mundo. E sobre a maga e o dragão que virou homem? Dizem que eles ainda estão juntos e andam por aí ensinando que por trás da mais temida criatura, há sempre um coração capaz de amar.

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