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Já passava da meia-noite, a Lua estava clara como a neve no céu, iluminando a praia de areia fofa e o mar bruto e azul; as ondas nervosas distorciam o reflexo do astro.

A estação era a primavera. A água começava a ficar gelada à noite, sem o rei Sol que repousava de seu dia de estrela, enquanto sua amiga Lua brilhava noite adentro. A natureza é tão perfeita que todos tem sua chance de brilhar.

Uma garota estava sentada na orla da praia abraçando as pernas com seus braços esguios, sentindo a brisa suava batendo em seus longos cabelos ruivos. Sua expressão séria exalava um profundo relaxamento espiritual, mas algo a perturbava. Estava esperando por alguma coisa, ou será que esperava por alguém? Quem a visse de longe poderia pensar que era uma mulher comum, mas sua verdadeira forma estava escondida sob um véu de mistério: suas feições era mais exóticas do que qualquer pessoa que vivia na Terra, havia algo naqueles profundos olhos verdes que encantava e fascinava.

Em um momento mágico, as ondas do mar se acalmaram e o tempo pareceu correr mais devagar. A luz da Lua iluminou com mais força uma pequena parte do mar, como um holofote natural. A garota levantou-se de onde estava, com suavidade e elegância, seu vestido azul esvoaçava com o vento.

– Espere! – alguém gritou, correndo para se aproximar.

Ela não precisou se virar para saber quem era, seu coração apertou-se em um nó. O homem aproximou-se dela vagarosamente, como se tivesse medo que ela evaporasse caso chega-se mais perto. Ele encostou uma das mãos no ombro da mulher carinhosamente.

– Quando lhe verei novamente? – perguntou, com angústia na voz.

A ruiva virou-se para encará-lo e sem esperar mais um minuto beijou-lhe os lábios docemente, era um beijo de despedida.

– Não posso ficar. – disse firmemente, entrelaçando seus dedos com os dele por alguns instantes. – Mas lembre-se de mim, doce William. Quando a luz da Lua tocar a água do mar, pense em mim, pois estarei cantando uma canção para você. – Com isso, soltou-lhe as mãos devagar e o olhou profundamente em seus olhos azuis.

Ainda virada para William, a formosa mulher foi andando para o mar. Conforme a água ia batendo em seus pés e depois em suas pernas, sua forma ficava mais iluminada. Quando chegou perto da fonte forte de luz, seus olhos se encheram de lágrimas e deu um último sorriso para o homem que a estava olhando da praia. No lugar das pernas, uma cauda brilhante, delgada e azul apareceu.

O último relance que ele teve de sua sereia foi a cauda desaparecendo nas profundezas do mar.

Dizem que as sereias encantam os homens com suas belas vozes e os levam para o fundo do oceano, de onde nunca mais voltam.

Ela era diferente.

Ela havia se apaixonado.

Se escutarmos com atenção, em noites de luar ainda podemos ouvir sua melodiosa canção de um amor impossível.

Música para escutar junto com o conto: https://www.youtube.com/watch?v=HFiJQlaAJ6Q — Eria – Two Steps from Hell