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E lá estava ela, seus pés pisavam a grama verde do lindo jardim de uma casa abandonada de dois andares, no alto de uma pequena planície afastada da cidade. Flores de várias espécies cresciam desordenamente no gramado cheio de dentes-de-leão. Era a planta que mais gostava…

A garota aparentava ter uns dezenove anos, olhos cor de mel que se assemelhavam ao mel colhido das abelhas, usava um vestido branco de alcinhas que ia até os joelhos. Era tão leve que flutuava com o vento, assim como seu cabelo liso marrom cheio de mechas que ia até metade das costas.

Sentou-se preguiçosamente no tapete natural, olhou ao redor e pegou um dente-de-leão. O observou por algum tempo, fechou os olhos e o soprou levemente, como se estivesse apagando uma vela. As folhas voaram em círculos indo para longe e cada vez mais alto. Abriu os olhos e deu um grande sorriso.

Seu rosto angelical estava voltado para o céu, tentando descobrir formas e desenhos nas macias nuvens que se movimentavam lentamente naquela manhã ensolarada e morna de Primavera. Riu ao ver pássaros voando e piando, pareciam cantarolar uma maravilhosa e harmoniosa melodia que só ela podia ouvir.

A menina levantou-se enquanto inalava o cheio da garoa que poderia estar vindo, misturado com as flores selvagens daquele campo. Abriu bem os braços e começou a dar giros, tentando se lembrar de uma música que já teria escutado em um lugar muito bonito. Seu riso preenchia o ar com tamanha pureza e alegria que alguns animais se atreveram a chegar um pouco mais perto do espetáculo. Passarinhos, empolgados, a rodeavam. Seus pés pareciam flutuar à medida que dava passos graciosos e leves.

Se sentia livre… Como jamais estivera…

Enquanto rodopiava, sentiu suas asas felpudas se abrirem num rápido movimento. Um anjo… Ou melhor, uma anja. Um pesar enorme lhe recaiu quando lembrou-se de onde tinha vindo. Olhou para o céu mais uma vez. Nunca o havia visto tão de perto, parecia até uma ilusão estar parada ali, em meio a natureza. Normalmente, era proibida de descer ao mundo. Apreciava cada momento e não se arrependia de ter desrespeitado regras.

O olhar pesado deixou-lhe e uma calmaria muito forte a invadiu. Queria ser livre e havia conseguido! Começou a andar vagarosamente, sem ritmo definido, mas com a esperança de um novo futuro.

Dizem que ela foi a primeira anja que caiu do céu porque queria viver.

Estava livre… Assim como as folhas do dente-de-leão que dançariam uma eterna dança na brisa suave.

Havia esperança.

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